O sol brilhava, os seus raios quentes penetravam pelo meu quarto acalentando-o, a brisa do mar soprava da janela, a cortina translúcida de tom argênteo, dispersava-se. Aproximei-me e fui ao seu encontro, desviei-a do meu olhar.
As gaivotas voavam sobre o céu azul, umas escassas nuvens de aspecto fofo desciam sobre elas e quase as tragavam. Mais a baixo as ondas do mar na sua obstinação, impulsionavam os rochedos, com a frescura de sempre. Os meus olhos não conseguiam ver a beleza que estava à frente deles.
Emaranhada na névoa densa dos meus pensamentos deixei de sentir a essência da fragrância, como o calor dos raios do sol, na nudez da minha pele. Para sentir um frio gélido que veio das profundezas do meu ser que percorreu todo o meu corpo, ao ler as tuas palavras escritas a preto no papel branco, que estava presa na minha mão.
Por momentos não quis acreditar no que lia. Era amargo demais “pensei” para ser encerrado por umas meras palavras escritas a negro.
Muitas vezes na minha mente já me tinha ocorrido que era uma possibilidade, que poderia vir a acontecer num futuro proximo. Mas a outra parte de mim … o sentimento puro que tinha por ti, não me deixa ver com a limpidez necessária.
Uma lágrima brotou dos meus olhos e deslizou pelo meu rosto, quando vi a tua imagem, a tua imagem desfocada à minha frente.
O teu bálsamo ainda estava no meu corpo, a tua presença no meu pensamento e nele a magia do teu sorriso, o brilho do teu olhar quando me olhavas nos olhos. O toque da tua pele na minha.
Recordei, a nossa última vez, no calor da noite tu e eu, à beira-mar, ao sabor da brisa, nossos cabelos esvoaçavam, nossos corpos colados num toque leve porém, sentia o calor do teu corpo no meu. A minha mão nos teus cabelos sedosos deslizava, de encontro ao teu tronco e aos botões da tua camisa negra, para os desapertar. Seguidamente acariciei a tua face com os meus dedos e tu pegaste na minha mão e nela senti os teus lábios doces, quentes. Olhei-te profundamente nos teus olhos, os teus lábios ligaram-se dos meus e saboreei-os com todo o meu desejo. Senti o toque das tuas mãos, no meu corpo, na minha pele, subindo e descendo como uma dança, ao compasso da melodia do ofegar da nossa respiração e da sonância envolvente do mar.
Despertei do meu sonho, olhei para o papel que estava molhado, amachucado, junto ao meu peito. Em instantes as perguntas formularam-se na minha mente, porquê?
Porquê, estas negras palavras?